Pedro Cardoso da Costa
É comum
no período do Natal surgirem ou se ampliarem ações de solidariedade. Pessoas se
desculpam de falhas, amigos se reconciliam de pequenas divergências. O coração
fica mais afetivo e compreensivo. As pessoas se buscam e se encontram e muitas
vezes se encantam entre si. Encontram virtudes onde antes só enxergavam
defeitos e se descobrem tão próximas quando se imaginavam tão distantes. Esses
sentimentos não trazem mal nenhum, ainda que sofram da provisoriedade de fins
de ano.
Passado o
festejo de Natal, surgem os preparativos para as festas e as promessas para o
Ano Novo. Na prática, existe uma certa paralisia individual e coletiva no ano
que termina à espera do ano seguinte.
Nada que
desabone o festival de bondades do período, mas não passam de alívio d’alma,
principalmente para quem deixou escapar o ano inteiro sem nenhuma ação prática
que melhorasse a família, o grupo de amigos, o bairro ou somente outra pessoa
diretamente.
Quem
busca a remissão dos pecados no fim do ano utiliza muito a expressão “se eu
pudesse, eu ajudaria”. Essa justificativa nunca vem isolada. Ela costuma vir
antecedida da indução àquele que pode que faça aquilo que o outro faria se
pudesse; ou após uma crítica a alguém que sempre poderia ter feito o que o
crítico não fez.
Esse
posicionamento varia de frases, que têm o mesmo significado e trazem o mesmo
resultado zero. “Se Deus me ajudar...” “Se Deus quiser...” “Se Deus me
permitir...” E com a mais utilizada: “Deus ainda vai me ajudar...” E, quando é
mais invejoso, costuma comparar-se a você materialmente – a quem se refere –
“se eu tivesse condições como você”. Ou elogia com disfarce, a reconhecer a
própria fraqueza: “graças a Deus que você pôde ou pode ajudar”.
Concomitante
às promessas para o ano novo surgem queixas, com maior intensidade sobre
parentes e amigos ausentes “quando mais se precisava”. Trata-se de queixa
unilateral, sem nenhuma autocrítica, se não faltou quando os amigos do lado de
lá também precisaram.
Esse
ressentimento se generaliza mais como disfarce, mas sua concentração fica com a
questão material, de dinheiro mesmo. “Quando eu estava numa boa, estava cercado
de amigos”, costuma bradar e emenda com um “quando eu fracassei ou passei por
dificuldades, sumiram todos”. Não se dá conta de que ele também aceitou e se
glamorizou quando estava cercado de bajuladores. Estava tão cego que nunca
percebeu que jamais foram amigos! E que o “reclamão” da vez pode ser aquele
amigo “caderneta de poupança”: o que faz pelo “amigo” é um investimento que espera
receber em dobro. O mundo está cheio de amigos que pagam um cafezinho já
esperando receber dois, três ou muito mais do que isso.
Já que
falta espaço para definir tanta gente “boa”, reforço o argumento com frase do
cantor Chico Cesar quando diz: “Deus me proteja da maldade de gente boa”. Dessa
gente que só se acha merecedor a receber e quando dá é esperando o retorno
imediato do investimento.
Que em
2017 as pessoas apliquem em planos próprios de investimentos e fiquem certas de
que amigos de verdade não são cadernetas de poupança.
Pedro Cardoso da Costa