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Alexandra Vieira de Almeida, escritora e doutora em Literatura Comparada (UERJ) |
No mundo contemporâneo, um clique vale mais do que um abraço. O
afeto se revela como uma neurose para muitos, pois o normal seria o olho
biônico da internet. Lembrando-me de um dos heterônimos do poeta português
Fernando Pessoa, em que a máquina devora o homem numa relação erotizada, o amor
se transforma na aparência metálica do tecnológico.
A essência deixou de ser essencial para se fragmentar nos
múltiplos hipertextos da internet, que deixando a profundidade do sonho, navega
numa realidade mais que costumeira, banal e sem muita riqueza vocabular. A
redução de nossa memória, pela memória dos bits do computador tira o homem de
sua busca pela utopia de suas noites insones pelo sonambulismo artificial da
virtualidade. Esta se alimenta da energia do homem, vampirizando-o a tal ponto
que horas e horas que poderiam ser usadas para o processo criativo acabam
levando a uma repetição incessante. Como se ruídos fossem da noite mais
sombria.
Porém, há o outro lado. Com a tecnologia, podemos ver que não só
de noites tempestuosas vive o homem, pois a velocidade da internet se traduz na
diferença e na repetição. A partir dela, o ser humano também pode criar, imaginar
e “navegar” no mar do novo, com descobertas no desconhecido laço que nos une,
não pelos afetos carnais, mas pelas afinidades intuitivas de uma tecla, que em
poucos minutos pode produzir uma rede de fraternidade digital.
No universo cibernético, as pessoas reproduzem textos e ideias com
perguntas, respostas, réplicas e tréplicas. A consequência é a “produção” de
conhecimento, um conhecimento que não pode durar nas redes, mas que perdura nos
corações dos seres em comunhão internética.
Os sonâmbulos da internet se afinam com uma outra maneira de se
inventar, despertam para a aurora movente da tecnologia não fabricada, mas
criada pelos sonhos mais criativos. O sonambulismo se reinventa e desaparece,
deixando em seu rastro o despertar de uma manhã nascente que costura novos
jogos computacionais de maneira lúdica.
Navegar na web se torna uma necessidade visceral, não uma
obrigação. A rede leva as pessoas para outros horizontes, em que as linhas se
tocam e os abraços não se partem, criando-se uma afinidade virtual.
Essa mágica técnica faz de todos uns artistas cheios destas
virtualidades viscerais com o contato das palavras. Porém, a mão da máquina se
torna uma extensão de nossos pensamentos mais imaginativos. A tela do
computador se torna um quadro da arte mais bela, em que as ideias se costuram
entre si criando um mosaico caleidoscópico.
Portanto, a mão do homem toca a tecla, sua amante não tão
distante. A máquina não devora o homem, como diria Pessoa, mas tanto o ser
quanto o computador se tocam suavemente para a criação dos pensamentos mais
infinitos em que como espirais se expandem no leito desta navegação artística.
Na web se produz arte, a ideia se cria pelo dom e pela inspiração de mentes
tocadas pelo artificialismo e o ser humano se deita nestas águas plenas ao
navegar no mar desconhecido do belo reproduzido em múltiplas formas.