quinta-feira, 14 de maio de 2015

Viciado em internet

 Mario Eugenio Saturno

Uma pesquisa da Universidade de Swansea e da Universidade de Milão mostrou que os jovens que usam a internet por longos períodos podem sofrer sintomas de abstinência semelhante aos viciados. Esse é o primeiro estudo sobre os impactos psicológicos negativos imediatos de uso da internet.
 

A pesquisa descobriu que aqueles que ficam muito tempo na internet, relataram aumento humores negativos depois que pararam de navegar e, possivelmente, fazendo-os usar novamente a internet para superar esses sentimentos desagradáveis.
 
Segundo o Professor Phill Reed, o estudo mostra que cerca de metade dos jovens estudados gastam tanto tempo na rede que provoca males para o resto de suas vidas. O efeito é comparável ao uso de drogas como o ecstasy. Observou-se também que esses usuários tendem a ser mais deprimidos e mostram traços de autismo.

O estudo completo, intitulado “Differential Psychological Impact of Internet Exposure on Internet Addicts”, pode ser visto no site da PLoS ONE. Participaram da pesquisa sessenta voluntários, sendo 27 homens e 33 mulheres, com idade média de 24 anos. Os testes psicológicos buscavam avaliar a dependência da internet, humor, ansiedade, depressão, esquizotipia, e traços de autismo.

Durante a última década, Reed resume, o tema tomou a literatura médica, vício em internet é uma nova psicopatologia, com especial foco no jogo e na pornografia. O impacto negativo do uso excessivo de internet pode ser verificado em uma ampla gama de aspectos da vida das pessoas bem como no funcionamento familiar.

Em uma pesquisa anterior, o professor Reed já havia observado que estudantes que usam a internet excessivamente têm a motivação para estudar diminuída.
 
 
A pesquisa envolveu centenas de estudantes do Reino Unido que relataram suas atividades “online”, um teste de dependência de internet e uma avaliação da motivação ao estudo. Outros fatores foram considerados para estabelecer a correlação do uso excessivo de internet, como depressão, solidão e isolamento social.

Para Reed, é provável que aqueles que utilizaram a internet muito tempo em jogos ou outra atividade, simplesmente tiveram menos tempo para estudar, e também, porque eles tinham níveis mais elevados de depressão, ou seja, são menos propensos a querer trabalhar.

Para o professor Reed, o crescente uso de suporte digital de aprendizagem nas universidades pode criar problemas, apesar de que a aprendizagem “online” seja uma ferramenta poderosa. Ele observou que o uso da internet era interessante mas que sugou usuários. Estudantes de Engenharia e de Ciências tendem a usar a internet mais que os estudantes de Artes e Ciências Sociais, mas que o efeito motivacional foi semelhante em ambas as categorias.

O cientista ainda citou outro estudo que acompanhou os usuários do Facebook por mais de seis meses. A conclusão foi surpreendente, quanto mais os participantes do estudo usavam o Facebook, mais eles ficaram deprimidos.

Diversos pesquisadores já haviam apontado que a utilização da internet prejudica o funcionamento técnico executivo, ou seja, na capacidade de planejar e resistir a escolhas impulsivas. Estudar requer exatamente esse tipo de habilidade.

Mario Eugenio Saturno (cienciacuriosa.blog.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.