Frei Dino
Deus se revela na nossa história dentro da realidade em que vivemos. Isto explica porque vamos entendendo melhor as coisas de Deus.
Quantas vezes celebramos a Páscoa, sempre um
acontecimento novo e importante para nossa vida! Por quê? João, o
discípulo amado, abre o caminho para entendermos esta surpreendente constatação:
“Vede que grande presente de amor o Pai nos deu sermos chamados Filhos de
Deus! E nós o somos”! (1 Jo 3,1) Esta é a graça que a Páscoa traz consigo
e que habita em nós, fazendo-nos crescer cada dia um pouco mais, como filhos e
filhas de Deus, a grande vocação que acompanha o dom precioso no Batismo.
Na vida espiritual acontece algo parecido com o processo
biológico humano: passamos por várias fases até alcançar a plena
maturidade. Tal crescimento espiritual é, antes de tudo, fruto da ação
do Espírito Santo em nós e da sua graça. No entanto, ele exige
também um renovado compromisso de nossa parte, de caminhar de
maneira mais coerente com nós mesmos, na condição de filhos de Deus.
Não há dúvida alguma da beleza da nossa fé e do poder misterioso e
infinito da Páscoa! Mas corremos o risco de que estas
maravilhas fiquem no plano das ideias ou se instalem no nível
teórico, sem se tornarem experiência e vivência comum do dia a dia.
A Quaresma e a Páscoa acontecem uma em função da
outra. Podemos afirmar que a Quaresma é o começo da experiência
da Páscoa, como a semente de um fruto desconhecido. Cada
ano nasce uma nova esperança de crescimento no Senhor, uma
nova alegria e um novo empenho. É uma espiral que nos acompanha até
celebrarmos, na Páscoa eterna, a nova
criação. Aos poucos vamos transformando em plenitude o que
ainda é, em nós, limitado e imperfeito, atualizando a graça do
Batismo, seguindo o impulso interior da Páscoa de Jesus.
Muitas vezes escuto: “Eu trabalho muito, estudo muito,
sofro muito”, no sentido de mergulhar na vida a procura do
verdadeiro sentido da Páscoa. Praticamos atos de caridade
periodicamente, somos capazes de fazer algum sacrifício, mas pode
acontecer que sejamos cristãos só de vez em quando. Precisamos caminhar
sempre. com os olhos fixos no Ressuscitado, estar sempre ao lado
de Cristo que carregou a nossa cruz e nos amou sem limites,
exigindo que amássemos o outro com misericórdia, bondade e ternura,
vinte e quatro horas por dia. Isso que é vida cristã!
O homem novo e o homem velho ainda convivem dentro
de nós e às vezes num conflito que nos dilacera. Para vivermos como
homem novo, precisamos destruir o homem
velho. Este é o propó-
sito da caminhada Quaresmal, no silêncio, na oração, no
jejum, no
sacrifício, na caridade. Sem a Quaresma não podemos fazer a
experiência da Páscoa, que exige a conversão completa.
O discípulo irradia a luz e a fecundidade da Páscoa, na
medida em que assimila seu conteúdo e suas implicações.
Desejo que a luz da Páscoa penetre na alma de cada um,
para que busquemos o seguimento de Cristo, Novo Adão.
Frei Dino é Pároco da Igreja São Francisco de Paula