domingo, 23 de fevereiro de 2014

Pesquisa aponta estratégias de inclusão escolar de alunos com autismo

Carolina Guimarães
 
Através de práticas pedagógicas, professores e alunos ensinam e aprendem ao mesmo tempo


À medida que crianças com autismo ingressam em escolas comuns, a descoberta de possíveis estratégias de ensino que favoreçam a inclusão e aprendizagem desses alunos no cotidiano escolar se faz necessária. Pensando nessa questão, a orientadora educacional, Adriana Rodrigues Saldanha de Menezes, escreveu a dissertação “Inclusão escolar de alunos com autismo: quem ensina e quem aprende?”, pela Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

A autora considera que os métodos de ensino são variados e que os professores devem levar em conta as demandas apresentadas por cada aluno. Segundo ela, “nenhum aluno com autismo é igual a outro, assim como cada um de nós tem características próprias e particulares. Portanto, o que pode ser estratégia essencial para favorecer o aprendizado de um aluno, para outro pode não fazer diferença”.

Em seu trabalho, Adriana ressalta algumas medidas que podem ser tomadas pelos professores, a fim de ajudar no processo de inclusão escolar dos alunos com autismo. Tais são elas: estabelecer relação de confiança e canal comunicativo com o aluno desde o contato inicial; organizar rotineiramente canções, brincadeiras e rodas de conversa, favorecendo o contato olho no olho e concentrar a atuação nas habilidades do aluno e situar os comportamentos inapropriados em segundo plano.

A pesquisa durou dois anos e meio e foi feita a partir da inclusão de dois alunos com autismo em escolas comuns. O trabalho contou com uma coleta de dados em diferentes modalidades, como observação participante, entrevistas abertas e semiestruturadas com professores e gestores da escola onde os dois alunos frequentavam regularmente e filmagem. 

A dissertação revela que a inclusão dos alunos com autismo no cotidiano das escolas fez com que todos os envolvidos aprendessem. Ainda assim, o apoio da gestão escolar é fundamental. “Se o gestor defende a ideia de que a escola é espaço de todos, respeita a diversidade e acredita na possibilidade de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, suas ações estarão voltadas para tais objetivos”, diz Adriana.

A orientadora educacional afirma ainda que esse apoio pode ser feito de diversas maneiras: a discussão com os pais e responsáveis sobre o processo inclusivo; o investimento na formação de professores, abordando especificamente nesse caso o estudo e a organização de adaptações curriculares para o trabalho com o aluno com autismo; a abordagem junto aos demais profissionais da escola (merendeiras, zeladores, porteiros, entre outros), esclarecendo dúvidas ou definindo formas de melhor incluir o aluno nos diferentes ambientes da escola, como o refeitório e a biblioteca.

O progresso dos alunos com autismo e a formação continuada dos professores são dois dos destaques do trabalho. Além desses, um terceiro elemento teve seu papel na pesquisa: os demais alunos da escola. “Nas visitas às salas de aula, a observação do comportamento dos alunos no convívio com os meninos com autismo foi de grande importância. A inclusão se dá ou não nas relações. Relações com os colegas, com o professor e com o conteúdo das aprendizagens. Nesse caso, ainda que indiretamente, os demais alunos participaram”, afirma a autora.

Sendo assim, ao passo que os professores ensinam aos alunos com autismo, eles também aprendem e vice-versa. “A afirmativa de que professores não estão preparados para o trabalho com a inclusão é recorrente e histórica. No entanto, à medida que a escola se predispõe a promover o processo de inclusão, não somente por determinação legal, mas por compromisso político-pedagógico, todos os envolvidos diretamente precisam rever suas certezas, pensar e repensar novas estratégias, experimentar caminhos diversos e pesquisar”, declara.

Ciente dessa aprendizagem mútua, Adriana é categórica: “não há fórmula nem receita para uma inclusão de sucesso. Deve haver desejo, compromisso e empenho. Nesse movimento, os professores aprendem à medida que se veem mais capazes de ensinar e os alunos aprendem quando desenvolvem suas potencialidades, quando desenvolvem novas habilidades”.