Através
de práticas pedagógicas, professores e alunos ensinam e aprendem ao mesmo tempo
À
medida que crianças com autismo ingressam em escolas comuns, a descoberta de
possíveis estratégias de ensino que favoreçam a inclusão e aprendizagem desses
alunos no cotidiano escolar se faz necessária. Pensando nessa questão, a
orientadora educacional, Adriana Rodrigues Saldanha de Menezes, escreveu a
dissertação “Inclusão escolar de alunos com autismo: quem ensina e quem
aprende?”, pela Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro.

A
autora considera que os métodos de ensino são variados e que os professores
devem levar em conta as demandas apresentadas por cada aluno. Segundo ela,
“nenhum aluno com autismo é igual a outro, assim como cada um de nós tem
características próprias e particulares. Portanto, o que pode ser estratégia
essencial para favorecer o aprendizado de um aluno, para outro pode não fazer
diferença”.
Em
seu trabalho, Adriana ressalta algumas medidas que podem ser tomadas pelos
professores, a fim de ajudar no processo de inclusão escolar dos alunos com
autismo. Tais são elas: estabelecer relação de confiança e canal comunicativo
com o aluno desde o contato inicial; organizar rotineiramente canções,
brincadeiras e rodas de conversa, favorecendo o contato olho no olho e
concentrar a atuação nas habilidades do aluno e situar os comportamentos
inapropriados em segundo plano.
A
pesquisa durou dois anos e meio e foi feita a partir da inclusão de dois alunos
com autismo em escolas comuns. O trabalho contou com uma coleta de dados em
diferentes modalidades, como observação participante, entrevistas abertas e
semiestruturadas com professores e gestores da escola onde os dois alunos
frequentavam regularmente e filmagem.
A
dissertação revela que a inclusão dos alunos com autismo no cotidiano das
escolas fez com que todos os envolvidos aprendessem. Ainda assim, o apoio da
gestão escolar é fundamental. “Se o gestor defende a ideia de que a escola é
espaço de todos, respeita a diversidade e acredita na possibilidade de aprendizagem
e desenvolvimento dos alunos, suas ações estarão voltadas para tais objetivos”,
diz Adriana.
A
orientadora educacional afirma ainda que esse apoio pode ser feito de diversas
maneiras: a discussão com os pais e responsáveis sobre o processo inclusivo; o
investimento na formação de professores, abordando especificamente nesse caso o
estudo e a organização de adaptações curriculares para o trabalho com o aluno
com autismo; a abordagem junto aos demais profissionais da escola (merendeiras,
zeladores, porteiros, entre outros), esclarecendo dúvidas ou definindo formas
de melhor incluir o aluno nos diferentes ambientes da escola, como o refeitório
e a biblioteca.
O
progresso dos alunos com autismo e a formação continuada dos professores são
dois dos destaques do trabalho. Além desses, um terceiro elemento teve seu
papel na pesquisa: os demais alunos da escola. “Nas visitas às salas de aula, a
observação do comportamento dos alunos no convívio com os meninos com autismo
foi de grande importância. A inclusão se dá ou não nas relações. Relações com
os colegas, com o professor e com o conteúdo das aprendizagens. Nesse caso,
ainda que indiretamente, os demais alunos participaram”, afirma a autora.
Sendo
assim, ao passo que os professores ensinam aos alunos com autismo, eles também
aprendem e vice-versa. “A afirmativa de que professores não estão preparados
para o trabalho com a inclusão é recorrente e histórica. No entanto, à medida
que a escola se predispõe a promover o processo de inclusão, não somente por
determinação legal, mas por compromisso político-pedagógico, todos os
envolvidos diretamente precisam rever suas certezas, pensar e repensar novas
estratégias, experimentar caminhos diversos e pesquisar”, declara.
Ciente
dessa aprendizagem mútua, Adriana é categórica: “não há fórmula nem receita
para uma inclusão de sucesso. Deve haver desejo, compromisso e empenho. Nesse
movimento, os professores aprendem à medida que se veem mais capazes de ensinar
e os alunos aprendem quando desenvolvem suas potencialidades, quando
desenvolvem novas habilidades”.