Gabriella Vitoria
A Aids continua sendo um
tema que envolve inúmeras discussões, mesmo depois de anos de avanços nos
tratamentos e pesquisas. Com relação ao sexo feminino, os aspectos são ainda
mais delicados. Através da observação de questões culturais e de gênero, é
possível perceber uma posição de vulnerabilidade das mulheres com relação à
doença. É através dessa ótica que Viviane Soares, mestre em Serviço Social pela
UERJ, desenvolveu sua dissertação.
Em “Contextos de
autonomia e vulnerabilidade: histórias e particularidades de mulheres vivendo
com HIV/Aids”, a autora buscou apresentar as características que envolvem a
vida de mulheres portadoras do vírus e os aspectos, gerais e particulares,
responsáveis por colocá-las em uma posição de maior fragilidade.
Um fato que contribuiu
para o desenvolvimento da pesquisa foi a experiência de Viviane no Gabão, país
localizado no Centro-Oeste do continente africano. Lá, ela pôde entrar em
contato com o trabalho de ONG's e ministérios, em que alguns cargos são
ocupados por mulheres, que lutam contra a epidemia da doença, crítica na
região. “É bastante comum vermos em cultos evangélicos e missas, a intervenção
do Ministério da Saúde falando sobre o vírus HIV e as formas de prevenção”,
comenta. O contexto tradicional e cultural desse local, que envolve práticas
como a poligamia, é um dos pontos analisados por Viviane que explica o alto
índice de casos femininos.
A pesquisadora também
percebeu, no Brasil, algumas semelhanças com esse local. A subordinação de
muitas mulheres, a resistência dos homens em usar preservativos e a dificuldade
de suas parceiras em convencê-los disso são fatos que, ainda hoje, persistem e
contribuem para agravar o quadro. Renda e escolaridade, intimamente ligados ao
acesso à informação e saúde, também são importantes indicadores e devem ser
considerados.
Além dessa experiência,
Viviane trabalhou como residente, no Hospital Universitário Pedro Ernesto, com
um grupo de mulheres soropositivas denominado “Parceiras da Vida”. Nele,
participam mulheres infectadas ou afetadas, como irmãs, esposas ou filhas, pelo
vírus da AIDS. O grupo reúne-se desde 2002, em encontros mensais, para discutir
sobre as dificuldades das mulheres com relação a doença.
A principal
característica desse trabalho é pensar além das consultas médicas e índices
gerais da doença, levando em consideração o relato pessoal de cada mulher.
Viviane conta que o trabalho propicia “um espaço para que as usuárias possam
compartilhar suas angústias com relação ao diagnóstico, as esperanças,
expectativas, e identificar as distintas formas de violações de direitos, não
só no âmbito da saúde, mas em outras áreas da vida”. Além do espaço para a
discussão, as parceiras da vida tem acompanhamento clínico de profissionais e
realizam diferentes atividades, como artesanato.
Viviane constata, em sua
dissertação, que a AIDS continua sendo vista como “uma doença incurável que
causa medo e vem cercada de preconceitos e discriminações” e que, apesar de
décadas de sua descoberta e estudo, ainda é fortemente associada à perversão
sexual e promiscuidade. “Frequentemente identificamos que o impacto social e
psicológico do estigma em outras interações (com familiares, amigos, trabalho,
vizinhos e parceiros amorosos) implica em encobrimento, isolamento e depressão.
Assim podemos dizer que o preconceito persiste e, ainda hoje, requer um
enfrentamento por parte das mulheres que vivem com HIV/Aids”, afirmou a
pesquisadora.


