Pesquisa
mostra o impacto da violência doméstica em adolescentes
obesos
Rafael
Souza
O
excesso de peso em adolescentes normalmente é ligado aos maus
hábitos alimentares e ao sedentarismo durante a infância ou a
adolescência. Por ser considerada uma séria questão de saúde
pública, pesquisadores vêm tentando identificar outros fatores de
risco, através de modelos explicativos baseados em fatores
psicossociais, como a violência familiar na infância.
Baseado nesses modelos, atentando
também para a delicada questão da violência, Alice Helena Nóra
Pacheco Gagliano, doutora em Saúde Coletiva pela UERJ, abordou em
sua tese a possibilidade de a violência familiar na infância ser
considerado um fator de risco para o excesso de peso na
adolescência.
O estudo consistiu em uma pesquisa com
1014 adolescentes entre 13 e 19 anos de idade de duas escolas
públicas e quatro particulares. Essa é a primeira pesquisa nacional
sobre o assunto, que ainda é pouco discutido e está inserido no
Programa de Investigação Epidemiológica em Violência Familiar
(PIEFV), criado em 1999 e sediado no Instituto de Medicina Social da
UERJ.
Segundo
Alice, o fato de a adolescência ser uma fase de dúvidas e
conflitos, marcada por mudanças físicas, psicológicas e
comportamentais, na qual o indivíduo busca sua própria identidade
após a infância, fazem com que os adolescentes sejam um grupo de
risco para comportamentos prejudiciais à saúde, como a
má-alimentação e o uso de cigarro, drogas e álcool. Além disso,
essas mudanças podem influenciar também em comportamentos
relacionados à violência urbana e doméstica.
Os dados utilizados na pesquisa foram
o índice de massa corporal (IMC) e o Childhood Trauma Questionaire
(CTQ), um questionário que tem como questão central a existência
de traumas por parte dos adolescentes que sofrem com a obesidade.
Esses dados possibilitaram a verificação de uma associação entre
os fatores nutricionais e psicológicos.
Dos 1014 adolescentes selecionados
para a pesquisa, 53,4% eram do sexo feminino e 50,2% estudavam em
escola pública, com a prevalência de excesso de peso sendo em
26,7%. Houve uma menor tendência ao excesso de peso na adolescência
entre os meninos que sofreram violência do tipo negligência física
na infância, que diz respeito à falta de cuidados com a higiene e
saúde, incluindo a subnutrição e obesidade infantil.
Por fim, a doutora conclui que a
exposição à violência na família parece não estar associada com
o excesso de peso na adolescência. Esse risco foi maior apenas entre
os adolescentes cujos pais apresentavam excesso de peso.