sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Obesidade na adolescência pode ter causas psicológicas


Pesquisa mostra o impacto da violência doméstica  em adolescentes obesos




Rafael Souza

O excesso de peso em adolescentes normalmente é ligado aos maus hábitos alimentares e ao sedentarismo durante a infância ou a adolescência. Por ser considerada uma séria questão de saúde pública, pesquisadores vêm tentando identificar outros fatores de risco, através de modelos explicativos baseados em fatores psicossociais, como a violência familiar na infância.

Baseado nesses modelos, atentando também para a delicada questão da violência, Alice Helena Nóra Pacheco Gagliano, doutora em Saúde Coletiva pela UERJ, abordou em sua tese a possibilidade de a violência familiar na infância ser considerado um fator de risco para o excesso de peso na adolescência. 

O estudo consistiu em uma pesquisa com 1014 adolescentes entre 13 e 19 anos de idade de duas escolas públicas e quatro particulares. Essa é a primeira pesquisa nacional sobre o assunto, que ainda é pouco discutido e está inserido no Programa de Investigação Epidemiológica em Violência Familiar (PIEFV), criado em 1999 e sediado no Instituto de Medicina Social da UERJ.





Segundo Alice, o fato de a adolescência ser uma fase de dúvidas e conflitos, marcada por mudanças físicas, psicológicas e comportamentais, na qual o indivíduo busca sua própria identidade após a infância, fazem com que os adolescentes sejam um grupo de risco para comportamentos prejudiciais à saúde, como a má-alimentação e o uso de cigarro, drogas e álcool. Além disso, essas mudanças podem influenciar também em comportamentos relacionados à violência urbana e doméstica.

Os dados utilizados na pesquisa foram o índice de massa corporal (IMC) e o Childhood Trauma Questionaire (CTQ), um questionário que tem como questão central a existência de traumas por parte dos adolescentes que sofrem com a obesidade. Esses dados possibilitaram a verificação de uma associação entre os fatores nutricionais e psicológicos.

Dos 1014 adolescentes selecionados para a pesquisa, 53,4% eram do sexo feminino e 50,2% estudavam em escola pública, com a prevalência de excesso de peso sendo em 26,7%. Houve uma menor tendência ao excesso de peso na adolescência entre os meninos que sofreram violência do tipo negligência física na infância, que diz respeito à falta de cuidados com a higiene e saúde, incluindo a subnutrição e obesidade infantil.

Por fim, a doutora conclui que a exposição à violência na família parece não estar associada com o excesso de peso na adolescência. Esse risco foi maior apenas entre os adolescentes cujos pais apresentavam excesso de peso.