sábado, 20 de julho de 2013

Grafite: antes vandalismo, hoje arte


O grafite vem ganhando espaço no gosto da sociedade contemporânea

Thiago Carvalho

Nascido na década de 70, nos Estados Unidos, em forma de tag, tendo como herança as frases de protestos das ruas da França nos anos 60 e difundido em várias metrópoles, o grafite foi criado como forma de manifesto dos jovens contra os governos, e por isso foi pré-julgado como ato de vandalismo. Porém, Com a grande visibilidade das ruas, o grafite aos poucos vem conquistando seu espaço no gosto popular. Hoje é possível ver os desenhos em novelas, exposições de arte, escolas, e até na parte interior das casas, como decoração. 

O grafite já foi tema de uma dissertação, feita pela mestre em arte e cultura contemporânea Ana Beatriz Soares Cascardo que tem o título “Grafite contemporâneo no Brasil: da subversão à incongruência conceitual a serviço da arte”, sendo defendida na Universidade do Estado do Rio de Janeiro(UERJ).

Em seu trabalho, Ana Beatriz busca analisar os discursos construídos em torno do grafite, abordando conceitos flutuantes, o papel ideológico dele no mundo da arte e como se dá esta relação, que ocorre de maneira negociada. Em entrevista à AGENC, Ana Beatriz usa o termo graffiti com dois efes, tê e i no final, sendo este termo a intervenção de locais proibidos e pouco prováveis, sendo englobado nele o grafite e a pichação.

Segundo a autora da dissertação, os fatores determinantes para o graffiti ganhar seu espaço no Brasil foram as novas tecnologias, cultura de massa, diversidades artísticas de seus autores, tendo se destacado as intervenções de Alex Vallauri, em São Paulo, que inclusive tem em sua homenagem o dia 27 de março, dia de seu falecimento como o dia nacional do graffiti. Porém, os anos 80 e inicio de 90 com grande influência da estética e ideologia do hip hop, oriunda dos guetos dos EUA, que para ela, foi e é o estilo mais utilizado no país.

A pesquisadora explica que os graffitis dos EUA da década de 70 e do Brasil de hoje são duas linguagens distintas, principalmente pelos contextos e questões específicas de cada país. “Outro grande fator que podemos destacar, é que nos Estados Unidos a grande explosão do graffiti se deu de maneira muito forte nas estações de metrô, nos fazendo refletir como as margens da sociedade se apropriavam deste meio subterrâneo. Já no Brasil o graffiti não foi tanto para os metrôs e sim para a área externa das cidades”, completa Ana Beatriz.

Apesar de o graffiti se encontrar mais institucionalizado hoje, para a autora, pode-se observar vários tipos de contextos representados no movimento, como aqueles que estão no mercado de arte e que de maneira oculta ou disfarçando seus traços ainda atuam na cidade de maneira “proibida”. Ela cita também o caso dos gêmeos do grafite, que são os artistas plásticos Otávio e Gustavo Pandolfo, que são reconhecidos internacionalmente pelos seus desenhos, tornando-se suas obras patrimônios, causando comoção na população e até na mídia quando seus desenhos são apagados. “Não Podemos afirmar, contudo que se fosse a intervenção de alguém ainda encarado como vândalo ou pichador se o incômodo seria o mesmo. É sempre mais complexo do que parece”, arremata Ana Beatriz.

Ela afirma que uma pintura em muro em que a pessoa contratou os serviços de um grafiteiro, não passa de uma pintura mural como as realizadas por Portinari, com a diferença que esse último atuava em ambientes institucionalizados e os grafiteiros em espaços particulares de todos os tipos. ”Tenho algo a dizer que pode parecer polêmico, o graffiti se caracteriza muito mais pela sua atitude espontânea, ou seja, aparecer sem ser convidado, do que pelos materiais empregados ou estética, que hoje em dia é bem variada”, conclui a autora.