Depois da tragédia de Santa Maria em janeiro e do acidente que deixou duas vítimas no Leblon, no dia quatro de março, a preocupação da população continua voltada para os riscos de incêndio. Porém, apesar das crescentes fiscalizações em ambientes fechados, como boates e casas noturnas, os túneis Rebouças e Engenheiro Raymundo de Paula Soares (mais conhecido como túnel da Covanca) ainda oferecem riscos aos seus usuários.
Esses dados se encontram no trabalho de conclusão de mestrado em Engenharia Ambiental pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) do pesquisador James Shoiti. A dissertação, que fez o estudo de caso dos dois túneis, concluiu que ambos os casos não seguem todos os padrões de segurança confiáveis.
Denominada “Grandes túneis urbanos: uma proposta de gestão ambiental”, a pesquisa foi concluída no final de 2010 e partiu da constatação de que há uma grande necessidade em analisar as diversas disciplinas que permeiam a operação e a gestão dos túneis urbanos no Brasil. Assim, visto que os dados teóricos relativos à gestão ambiental dos túneis do país são escassos, arquiteto buscou se fundamentar em publicações e normas externas para propor uma planilha de checagem de aspectos para tornar os túneis mais seguros.
Túnel Rebouças |
James também destaca os problemas de sinalização, que, segundo ele, é precária. “As placas fixas de sinalização são escassas, mal localizadas e de dimensões reduzidas. A argumentação de que a geometria do túnel inviabilizaria a instalações de placas maiores é desmedida, pois a altura interna é suficiente”. Faltam também sinalizadores luminosos, que poderiam informar em tempo real os usuários questões como possíveis acidentes, congestionamento e quantidade de poluentes retidas no lugar.
O Túnel Rebouças foi durante muito tempo o maior túnel urbano do Brasil, com comprimento de 2.700 metros, ligando a Zona Norte do Rio à Zona Sul. Atualmente, ele é administrado pela Prefeitura do município. A sua inauguração ocorreu em 1967, o que James aponta como fator que contribui para as deficiências do túnel. “O fato de a construção ser antiga com certeza atrapalha. Na época em que o túnel foi feito não havia tantas regulamentações e medidas de segurança. Mesmo assim, a falta de investimento no túnel Rebouças é inexplicável e injustificável”, afirmou.
No túnel Engenheiro Raymundo de Paula Soares (Linha Amarela), que liga a Ilha do Fundão à Jacarepaguá, a situação é melhor. James acredita que essa melhora é devida ao fato dessa construção ser mais recentemente (1997), A sinalização é equipada com placas indicativas e faixas de sinalização horizontal com dimensões adequadas e com suficiente distanciamento dos destinos orientados, além de painéis de conteúdo variável, ainda que com recursos técnicos limitados. Há alternativa de rotas de resgates, socorro e fuga, mas estas são inadequadas, visto que as passagens laterais destinadas à saída de emergência de pedestres não apresentam guarda-corpos para proteção e elevações em relação à estrada, conforme recomendado por normas internacionais de segurança.
Diferentemente do Rebouças, há baias neste túnel. “Segundo a gerenciadora do túnel, em caso de sinistro em que haja a necessidade de escape de pedestres, os emboques das galerias são bloqueados para permitir o trânsito de pedestres mais seguro. O problema que se verifica é que até que se restrinja o tráfego de veículo, é possível que ocorra uma situação dramática de conflito entre pedestres e veículos”, contesta o engenheiro em sua pesquisa. Atualmente, o gerenciamento é realizado pela concessionária privada LAMSA (Linha Amarela S.A).
Apesar da evolução da capacidade de gestão operacional e ambiental de túneis no Brasil nos últimos anos, James afirma que ainda há muito que se melhorar. “Obras são necessárias. No caso do túnel Rebouças é ainda mais urgente. É claro que essas obras geram transtornos no dia-a-dia do carioca, mas elas são necessárias. As estruturas não devem ser mantidas por serem antigas, ao contrário”, ressaltou.