* Ana Shirley de França Moraes
Os gladiadores estão de volta, agora em espetáculos esportivos em “arenas” itinerantes, em eventos milionários, difundidos pelas mídias. Lutadores de várias siglas UFC, MMA, UCF, os guerreiros das lutas de vale tudo são personagens reais de eventos de entretenimento atuais assim como os que ocorriam na Roma Antiga, onde a violência e o gosto pela agressão humana imperavam na busca da satisfação e ilusão do povo, onde imperadores, legítimos donos de seus homens de luta, promoviam um enredo de “pão e circo”.
Como esporte criado pelos etruscos, a luta dos gladiadores alcançou sucesso como atividade esportiva para o grande público na antiguidade. Os eventos eram realizados em arenas, onde os combatentes se enfrentavam até que houvesse a morte de um deles, ou ficasse desarmado ou, ainda, sem poder de combate. Havia, também, um responsável por mediar o combate, de forma a julgar se o derrotado devia morrer ou não, e o povo assistente influenciava na decisão.
Os lutadores eram prisioneiros de guerra, escravos e autores de graves crimes. E, para satisfazer alguns imperadores, mulheres também lutavam. Os combatentes tinham treinamento em escolas especializadas para combater na arena, e recebiam tratamento especial no intervalo das lutas e não lutavam mais que três vezes ao ano. Como isso é tão atual!
Por muitos séculos, os Gladiadores lutaram entre si para entreter os romanos. Foi construída uma arena especial para esse tipo de espetáculo, o Coliseu, onde as lutas eram travadas. Como nas lutas atuais, mas com outras denominações, os lutadores eram separados por categorias, para impossibilitar a desvantagem. Desta forma, havia os Trácios, os Murmillos, os Retiários, os Secutores e os Dimachaeri.
Além disso, a luta de gladiadores representava muito no Império Romano, por ser grande atração
popular. Os imperadores buscavam conquistar a amizade do povo, por meio dos espetáculos, já que assim conseguiriam manipular as massas. Usavam a política chamada de “Pão e Circo”- os governantes distribuíam pão durante as lutas e assim conquistavam a simpatia e a alienação do povo.
Refletindo-se sobre o esporte de luta nos dias atuais, repetem-se conceitos e estratégias das contendas dos gladiadores de Roma. Não mais com a força de trabalho de escravos e malfeitores, mas com a participação expressiva de rapazes pobres, jovens que vislumbraram no novo esporte condições de sobrevivência e sucesso.
A ilusória possibilidade de ascensão para meninos pobres, por meio da luta, tem seu preço. Amigos, família e sua própria comunidade não possuem condições de assistir ao combate. Como entretenimento de elite, pelo preço do ingresso e por ser veiculado em canal fechado e por acontecer em ambientes e lugares requintados, o jovem de classe baixa que busca melhor chance de vida, luta para uma plateia seleta e abastada, diferente do que se fazia em Roma, onde a arena era aberta ao povo em geral.
Diferente das lutas romanas, os novos gladiadores não são escravos e tampouco marginais, são indivíduos comuns, mas com força e desejo de vencer.
A ilusão do vencer na vida e a alienação trazida pelos combates reproduzem a política do “pão e circo”. Em uma metáfora bem justificada, tem-se o pão como forma de alimentação do espírito da plateia e das possibilidades de subsistência de pobres e jovens habilidosos. O circo representado pelo megaevento, pelo entretenimento de muitos bem dotados financeiramente, por meio do sofrimento e do sangue literalmente de poucos.
É mais um esporte de alienação, mais um Nirvana na vida dos pobres e do povo. Entretanto, a torcida existe: que ganhe um brasileiro! Um verdadeiro representante da nação verde-amarela que não se abate e nem foge à luta, mas acredita e se deixa sonhar.
*Ana Shirley de França Moraes – Administradora, Professora universitária e redatora