Por Redação - de Brasília
Lobão conversou com Lula sobre o apagãoMinistro de Minas e Energia, Edison Lobão conversou na manhã desta quarta-feira, por telefone, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para informá-lo sobre os procedimentos adotados para identificar as causas do apagão ocorrido na noite passada e definir que Estados foram realmente afetados. Lobão também tranquilizou o presidente sobre o restabelecimento do fornecimento de energia elétrica em todo o país. As informações são da assessoria de imprensa do Ministério de Minas e Energia.
Técnicos do setor de energia elétrica seguem tentando apurar as causas da falta generalizada de energia e nas próximas horas, o ministro Edison Lobão se reúne com o Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico para ouvir as conclusões sobre o problema e discutir medidas a serem adotadas para evitar que se repita. O Conselho é presidido pelo ministro de Minas e Energia e integrado por representantes do Ministério de Minas e Energia, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
O blecaute ocorreu em função de um desligamento na Usina Hidrelétrica de Itaipu e atingiu vários estados do país e também o Paraguai. A causa provável, segundo Edison Lobão, teria sido um fenômeno atmosférico.
Cobranças
No Congresso, a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (SC), respondeu pela manhã a iniciativa da oposição de pedir informações ao governo sobre o episódio do apagão. Ela afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, têm todo o interesse de esclarecer à sociedade o que ocorreu. Entretanto, isso só pode ser feito depois de apuradas as razões do blecaute, o que já está ocorrendo, segundo ela.
Sobre a tentativa de a oposição querer vincular o nome de Dilma Rousseff a uma eventual crise no sistema por ela já ter ocupado a pasta de Minas e Energia, Ideli defendeu a ministra da Casa Civil:
– Quando Dilma foi ministra, não tivemos apagão.
O líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), apresentou requerimento, à Mesa Diretora, para que os ex-ministros de Minas e Energia Silas Rondeau e Dilma Rousseff e o atual, Edison Lobão, expliquem os investimentos feitos no setor energético durante todo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A atitude da oposição, também segundo o ministro da Justiça, Tarso Genro, trata-se de um equívoco.
– Acho que eles estão comparando uma catástrofe com um tropeção na distribuição de energia. Acho que é mais um equívoco que eles vão cometer como oposição – disse ao ser questionado sobre o assunto por jornalistas no Itamaraty, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com o presidente de Israel, Shimon Peres.
Segundo Tarso Genro, a falta de energia elétrica não causou qualquer prejuízo ao sistema de segurança pública e aos presídios federais.
– Os presídios federais funcionam de uma maneira estável, absolutamente controlada, sem nenhuma possibilidade de utilização desse incidente para causar algum tipo de desordem – avaliou.
Explicações
Para o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, o apagão elétrico ocorrido em 18 Estados na noite passada necessita de uma explicação “precisa” das autoridades como forma de evitar especulações ou qualquer tipo de insegurança na população. O ministro admitiu que diante um problema de tamanha dimensão não existe alternativa para substituir o fornecimento de Itaipu. Mesmo fazendo questão de deixar claro que não é especialista no assunto, Bernardo disse que a Região Sudeste tem mais 30% da capacidade energética fornecida pela usina de Itaipu.
Ele rebateu críticas de que o sistema poderia ter sido substituído por termoelétricas na hora do apagão, para fornecer a energia necessária às regiões atingidas. Paulo Bernardo explicou que nenhum outro mecanismo naquele momento seria capaz de compensar o fornecimento de Itaipu.
– Na hora que caiu, as outras não seguraram – afirmou.
O ministro também não quis arriscar um palpite sobre a pane no sistema elétrico, mas descartou problemas na linha de transmissão pois, segundo ele, se a linha tivesse sido danificada, a eletricidade não teria voltado mais tarde. Bernardo disse ainda que o apagão não foi ocasionado por problema de geração já que esteve na região há dez dias e constatou que as usinas jogam água pelos vertedouros em consequência do volume armazenado nas represas.
– A capacidade de geração está intacta e tem água sobrando. Isso é generalizado na região em todas as hidrelétricas da bacia do Paraná – rebateu.
Como os técnicos passaram a noite na tentativa de restabelecer o abastecimento de energia, somente nas próximas horas poderão se dedicar à análise dos eventos e aos dados armazenadas nos computadores, já que o sistema é todo informatizado e pode fornecer informações sobre onde começou o problema, disse o ministro. Ele negou também problemas de investimento no setor e disse que o sistema funciona normalmente. Paulo Bernardo destacou que um acidente ninguém pode dizer que não irá acontecer.
Fragilidade
O apagão também se transformou em pauta no Senado. O presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), disse que o episódio demonstra “uma certa fragilidade” do sistema energético. Para ele, o problema torna-se mais sério por envolver uma hidrelétrica do porte de Itaipu, que tem uma das tecnologias mais avançadas. Sarney considera equivocada qualquer comparação do episódio de ontem com a crise do setor energético em 2001. Segundo ele, o que ocorreu foi “um acidente”. O presidente do Senado ressaltou, entretanto, que cabe um debate amplo que envolva, além do setor produtivo, a modernização de equipamento e as relações de consumo.
Com o presidente da Casa, que não é especialista no assunto, concorda o consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura. Ele acredita que o apagão que atingiu o país na noite passada mostra a necessidade de investimentos no setor elétrico para que os brasileiros não fiquem reféns de acidentes como o que parece ter provocado a falta de abastecimento de energia.
Ainda sem uma causa oficial conhecida, Pires disse que várias hipóteses podem ter provocado o acidente, mas afastou problemas meteorológicos ou queda de linhas de transmissão de Furnas, já que tanto a empresa como a meteorologia já descartaram essas possibilidades. Pires disse que o país precisa modernizar a gestão das linhas de transmissão, principalmente as de longa distância como as de Itaipu, para que no momento de um acidente o problema seja equacionado antes de afetar tantas cidades.
– As linhas de transmissão muito longas no Brasil são muito mal administradas. Em 1999 houve um evento igual ao de ontem (terça-feira), na época falaram de raio, vamos ver o que vão falar agora – disse Pires aos jornalistas.
Ele lembrou que – com a retomada da economia e o aumento de temperatura, "com reportagens mostrando que já está faltando ar condicionado para vender" – a sobrecarga pode ter causado algum problema técnico, mas que com uma gestão mais eficiente o apagão poderia ter sido restrito a uma região.
– Isso mostra que o Brasil está muito vulnerável, você não pode deixar um país com a dimensão do Brasil refém de acidentes – acrescentou.
Pires ressaltou que em breve o país vai receber mais uma linha de transmissão de longa distância no rio Madeira, das usinas de Santo Antonio e Jirau.
– Daqui a pouco vamos ter a linha do Madeira, também de longa distância. É preciso modernizar para quando tiver eventos desse tipo se consiga isolar o acidente e não afetar o Brasil inteiro – avaliou.
O Operador Nacional do Sistema (ONS) disse que não há motivo para ter ocorrido uma sobrecarga no Sistema Interligado Nacional, já que no horário de início do apagão – pouco depois das 22h – as indústrias estavam desligadas. O órgão ainda não tem uma posição oficial sobre a falta de energia que atingiu 18 Estados brasileiros, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste.
Segundo o secretário-executivo do Ministério de Minas de Energia, Márcio Zimmermann, três linhas de Furnas saíram do sistema, mas ainda não foi revelada a causa. A empresa, no entanto, informou nesta quarta-feira que nenhuma linha foi danificada e que está operando normalmente. O apagão durou cerca de 5 horas.
Transmissão normal
A empresa Furnas Centrais Elétricas informou em nota, nesta quarta-feira à tarde, que suas linhas de transmissão que ligam a Usina de Itaipu ao Sistema Interligado Nacional (SIN) estão operando normalmente e que não foi identificado qualquer dano nos circuitos e torres de transmissão. Na noite passada, uma pane paralisou a Usina Hidrelétrica de Itaipu, causando um apagão de quase três horas em dez estados brasileiros e também no Paraguai. O Rio de Janeiro foi o mais castigado.
A nota de Furnas diz, ainda, que o ONS está apurando as causas do blecaute. "As informações sobre o evento ainda estão sendo coletadas e processadas e, portanto, qualquer diagnóstico neste momento é puramente especulativo", afirma o comunicado.
Fonte; CDB