terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Cidade de Deus agora é de Deus

Choque de ordem da PM mantém bocas de fumo fechadas. Violência em queda.








A Cidade de Deus sem o tráfico de drogas. Boca de fumos fechadas, pontos de moto-táxis desativados e a polícia permanecendo na área para manter o toque de recolher ä 1hora da madrugada com determinações de bares, biroscas e quiosques sem funcionar a partir daquele horário. É o resultado da operação da Polícia Militar – Cidade de Deus é de deus – que impôs uma derrota ao crime organizado na região, no início de novembro quando um confronto com os bandidos chegou a fechar a região para a circulação do trânsito. No confronto, houve prisões e mortes de traficantes.

A ação representou a extensão de uma nova forma de policiamento, que a Secretaria de segurança lançou com sucesso no choque de ordem no morro Dona Marta, em Botafogo, onde os traficantes também foram expulsos e implantados os serviços legalizados de energia elétrica, água, telefone e TV a cabo. O sucesso do policiamento foi possível com um novo planejamento de ação, com carros da PM em constantes deslocamentos e não parados como vinha ocorrendo. Alem disso, o patrulhamento passou a ser feito também a pé e com um serviço de inteligência participando em ações nos locais suspeitos.

Nem todos aprovaram o novo choque de ordem. Os pequenos comerciantes, como os de bares e quiosques, sentiram queda de 90% nas vendas, boa parte com seus movimentos à noite.

A Cidade de Deus tem 3.852 casas e, segundo o censo do IBGE, 38 mil moradores. No entanto, a voz corrente na área é que a população gira em torno de 60 mil, conseqüência também de algumas mini-favelas que se instalaram ao redor. Quem projetou a Cidade de Deus em Jacarepaguá foi o Governo Carlos Lacerda, em 1966, ao criar um plano habitacional para atender flagelados de uma enchente nas favelas do Esqueleto, Praia do Pinto, Catacumba e Rocinha. A maior parte era de funcionários públicos na ocasião. Com 125 travessas, 34 ruas e duas avenidas, alem de duas praças, a Cidade de Deus batizou suas vias públicas com nomes bíblicos.

Entre os acessos de dois importantes bairros – Jacarepaguá e Barra – a região passou a atrair a atenção de famílias de outros pontos. E cresceu tanto que o Estado precisou instalar serviços como escolas, posto policial e serviço social com creche. Com a expansão do tráfico de drogas pelo Rio, a Cidade de Deus passou a abrigar quadrilhas que, em diversas ocasiões, entraram em confronto implantando o terror. Os reflexos se espalharam por outras áreas do bairro e chegaram a provocar arrastões na freguesia, em pleno carnaval.
Alguns moradores criticam os policiais, embora outros elogiem. Os que desaprovam relatam invasões de residência em busca de traficantes, acusando a ação de truculenta. Nas ruas, os desconfiados com a ação dizem que a Cidade de Deus ficará nas mãos das milícias. Em desafio ä PM, os traficantes esconderam drogas na área, descobertas pela polícia com a apreensão de mil papelotes de cocaína em matagal atrás de uma casa, e um menor de 15 anos detido com 15 trouxinhas de maconha e encaminhado ä Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente.